domingo, 25 de setembro de 2011

Um dia de SUS

Achei muito engraçado (se não fosse trágico) uma fato que me acorreu em uma cidade muito muito distante, em um postinho muito muito longíquo.
CHamei a próxima consulta, e entrou um senhor, desacompanhado, de seus 60 aninhos,muito bem vividos. Ele era uma figurinha, sua tez era clara, mas lembrava o solo do sertão, todo rachadinho. Sua pálpebras caíam sobre seus olhos cansados e acinzentados. Suas bochechas exibiam o cansaço de muitos sorrisos, e lhe caíam sobre a laterais da boca. Não tinha queixo, mas tinha uma bela papada, que embora fosse magro,chegava até o meio de seu pescoço.
Sentou bem a minha frente, e foi logo tirando uma bolsinha de supermercado e virando de ponta a cabeça a tal bolsinha na minha mesa. Caíram cerca de 17 tipos diferentes de remédios, e ele foi me explicando cada um. Um por um. Depois explicou o horário que tomava cada um e para que servia cada um (bom,pelo menos para o quê ele achava que servia, porque eu nunca soube que luftal, que é para gases, servia para dor no peito, embora faça algum sentido sim).
De vez em quando eu olhava de soslaio para o reloginho do celular, e uma gota de suor pingava da minha testa, já preocupada com a fila para atender, que só aumentava.
Quando enfim o velhinho parou de falar eu aproveitei a deixa e fui examiná-lo: pele e fâneros, orofaringe, ouvidos, tórax, abdomem e pernas. 
Ligeiramente disse que estava tudo bem, prescrevi alguns remedinhos e o dispensei com um sorriso de tarefa cumprida, 37 minutos após sua chegada em meu consultório.
Então, o senhor dá um longo suspiro e conclui: "é SUS mesmo... quanto tempo mais vou ter que esperar, cadê o DOUTÔ?"

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