Meus filhos me criticaram porque falaram que para mim, todos são loucos.
Não é isso. Repensando bem, eu acho que sou a única doida.
Porque é que quando a gente pergunta "Tudo bem?", a outra pessoa geralmente responde: "Tudo bem, tem que falar que tá bem, né?".
Gente, antigamente, as famílias mais numerosas, 'as vezes tinham para os filhos um par de sapatos só, que era alternado entre os irmãos. Na escola, um ia com o "kichute" (agora entreguei a idade...), e os outros iam com as havaianas (antes delas serem internacionais, quando ainda eram "não soltam cheiro, não soltam tira"). Merenda escolar? Nem sabíamos o que era isso. Quem tinha material escrevia, quem não tinha, ou roubava dos colegas, ou ficava sem aprender.
O pobre fazia uma refeição só, quando fazia, e emprego, nem de longe...
Sus não existi. Só era atendido quem pagava particular ou tinha o "INPS", ou seja, trabalhava de carteira assinada.
Remédio? Caríssimo. Não tinha de graça para quem não tinha emprego. Não haviam genéricos.
Câncer? Matava todo mundo. O médico receitava morfina e mandava para casa, para "morrer com dignidade", que geralmente significava morrer fedendo e berrando.
Mulher só podia transar depois do casamento,e homem tinha que transar sempre, mesmo com oito anos de idade, numa zona que o pai mesmo levava. Um filho por ano, até surgir o anticoncepcional na década de sessenta, e um filho por ano mesmo assim, porque o anticoncepcional não chegava a todas as camadas sociais com a mesma facilidade.
Polícia servia para dar cacetada no pobre e no "comunista". O bom que bandido era a mesma coisa,mas menos corporativista, não tinha nem PCC, nem CV.
Hoje, ao invés de desnutrição, nosso maior medo é a obesidade. Ao invés de sofrermos sem ter nada, sofremos com consumismo exagerado, excesso de geração de lixo, ao qual nem sabemos que destino dar, e com o uso indevido do crédito pessoal, tudo isso vindo do descalabro do nosso século.
A próxima pessoa que falar que "tem que falar que tá bem" vai escutar. Ôpa se vai.
Mesmo com toda súmula, com todo cúmulo, com todas paroxítonas da língua portuguesa, e com todas as dores do lendário católico-romano, não há cristão, ou muçulmano, ou budista, ou espírita que aguente tanta lamentação, num mundo rico de oportunidades, ainda longe de ser ideal, mas muito, muito menos desigual.
Não precisamos olhar muito para trás. Olhando uns dez ou quinze anos... Quantos tinham casa própria, emprego, carteira assinada, filhos com material escolar dado na escola? Bolsa para a faculdade?
Não tem nada a ver com política o que eu estou falando, pelo menos não quero ter. Tem a ver com lamentar toda hora, reclamar 'a toa... Vamos aproveitar essas oportunidades materiais que estamos tendo e mudar nosso mental!
Não está maravilhoso, mas está muito melhor, e tudo está mudando o tempo todo, novas tecnologias aparecem, para combater doenças, pobreza e o crime. Temos que acreditar num mundo melhor, porque se não mudarmos nosso ser não há como o mundo ser melhor.
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