domingo, 26 de junho de 2011

Borboleta Azul


Há uns dez dias eu estava descendo a estradinha de acesso a minha chacrinha, correndo, a um pace easy, quando pertinho da porteira, já meio escuro, "avuou" (acho tão simpático esse verbo criado pelo povo!) do meio da mata um bicho preto, e "relou" (idem avuou) bem na aba do meu boné. Desviei o corpo rapidinho, pensando que era um morcego, mas ao fixar o olhar pude ver uma borboleta linda, toda azul. Majestosa e elegante ela retornou para a mata de onde veio.
No dia seguinte, no mesmo lugar a borboleta me tocou no boné de novo. Já não me assustei, na verdade me surpreendi da borboleta estar ali de novo.
E assim foi todos os dias, até hoje.
Desci a estradinha voando baixo, socando o pé para não torcer o tornozelo nos buracos, e sempre atenta para não pisar em nenhuma cobrinha simpática. Passei do ponto da borboleta azul e nada. Retornei correndo e passei de novo no local de encontro meu com a borboleta. Nada. Voltei e voltei e voltei. Nada da borboleta.
Então me dei conta que minha borboleta não ia aparecer.
Parei de correr e voltei para casa cansada, andando mesmo. E percebi que minha borboleta nunca foi minha. Ela simplesmente estava lá. E sabe-se lá porque voltou e voltou e voltou. E sabe-se lá porque sumiu. Morreu? Mudou? Casou? Passou no vestibular borboletal para um curso em outro estado? Vai saber!
Se nem em um simples inseto temos o controle que dirá de todo o resto!
Não é porque gostamos de uma situação ou porque nos acostumamos a ela que tal coisa se perpetuará a nosso bel prazer. É o princípio da incerteza: o simples fato de observarmos um fenômeno já o modifica. Temos que nos desapegar, pois o apego gera muitos males. Insegurança, ansiedade, depressão.
Uma coisa de cada vez, um dia após o outro.
E correr não é isso mesmo? Um passo de cada vez, de metro em metro, até os 10 km diários! E depois, a recompensa: banho quentinho, coca geladinha, filme de monstrinho!
Minha borboleta se foi, mas nunca foi minha!
Amanhã farei o mesmo percurso, e nos buracos da estradinha socarei os pés levantando poeira, e a borboleta de longe vai saber que continuo correndo apesar dela não estar lá.

3 comentários:

  1. ...e apesar dela não mais estar lá, ainda se lembra dela todos os dias ao percorrer seu caminho, de sua elegância e majestade e de tudo o que ela te despertou, sem que seja necessária a sua presença! Naum é? rsrsrsr =)

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  2. apesar de esperar encontrar por ela no mesmo lugar... mesmo sabendo que naum sera possivel. é sempre bom lembra de que passo, pois é a unica coisa que restou. talves ela queria que a procurase mais tempo, mais temos que seguir na labuta diaria.

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