Há uns dez dias eu estava descendo a estradinha de acesso a minha chacrinha, correndo, a um pace easy, quando pertinho da porteira, já meio escuro, "avuou" (acho tão simpático esse verbo criado pelo povo!) do meio da mata um bicho preto, e "relou" (idem avuou) bem na aba do meu boné. Desviei o corpo rapidinho, pensando que era um morcego, mas ao fixar o olhar pude ver uma borboleta linda, toda azul. Majestosa e elegante ela retornou para a mata de onde veio.
No dia seguinte, no mesmo lugar a borboleta me tocou no boné de novo. Já não me assustei, na verdade me surpreendi da borboleta estar ali de novo.
E assim foi todos os dias, até hoje.
Desci a estradinha voando baixo, socando o pé para não torcer o tornozelo nos buracos, e sempre atenta para não pisar em nenhuma cobrinha simpática. Passei do ponto da borboleta azul e nada. Retornei correndo e passei de novo no local de encontro meu com a borboleta. Nada. Voltei e voltei e voltei. Nada da borboleta.
Então me dei conta que minha borboleta não ia aparecer.
Parei de correr e voltei para casa cansada, andando mesmo. E percebi que minha borboleta nunca foi minha. Ela simplesmente estava lá. E sabe-se lá porque voltou e voltou e voltou. E sabe-se lá porque sumiu. Morreu? Mudou? Casou? Passou no vestibular borboletal para um curso em outro estado? Vai saber!
Se nem em um simples inseto temos o controle que dirá de todo o resto!
Não é porque gostamos de uma situação ou porque nos acostumamos a ela que tal coisa se perpetuará a nosso bel prazer. É o princípio da incerteza: o simples fato de observarmos um fenômeno já o modifica. Temos que nos desapegar, pois o apego gera muitos males. Insegurança, ansiedade, depressão.
Uma coisa de cada vez, um dia após o outro.
E correr não é isso mesmo? Um passo de cada vez, de metro em metro, até os 10 km diários! E depois, a recompensa: banho quentinho, coca geladinha, filme de monstrinho!
Minha borboleta se foi, mas nunca foi minha!
Amanhã farei o mesmo percurso, e nos buracos da estradinha socarei os pés levantando poeira, e a borboleta de longe vai saber que continuo correndo apesar dela não estar lá.
...e apesar dela não mais estar lá, ainda se lembra dela todos os dias ao percorrer seu caminho, de sua elegância e majestade e de tudo o que ela te despertou, sem que seja necessária a sua presença! Naum é? rsrsrsr =)
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ResponderExcluirapesar de esperar encontrar por ela no mesmo lugar... mesmo sabendo que naum sera possivel. é sempre bom lembra de que passo, pois é a unica coisa que restou. talves ela queria que a procurase mais tempo, mais temos que seguir na labuta diaria.
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